07/06/2011

Educação: um pacto de silêncio?

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A campanha eleitoral foi praticamente omissa no respeitante à Educação. Não falaram dela (nem dos problemas, muitos, de que actualmente enferma) os líderes dos vários partidos concorrentes, não os questionaram sobre o assunto os vários jornalistas e entrevistadores, remeteram-se ao silêncio os comentadores de serviço. Como se entre todos houvesse um qualquer obscuro pacto de silêncio. Como se, na governação de um país que se afunda, a Educação fosse um campo menor  ..

Não falaram dela porque não lhes interessa. Uma massa acrítica e formatada no molde do eduquês é uma papa mole, que não critica nem pensa nem intervém, não incomoda os poderes instalados. Não falaram dela apesar - ou por causa de - a saberem um barril de pólvora, pronto a explodir. Calaram a Educação, porque ela, tanto ou mais que o pelouro das finanças, exigiria, de quem se demitiu, um 'mea culpa' inequívoco, pelo  desnorte político que imperou e pela convulsão social provocada, e, de quem agora vai tomar as rédeas do país, uma consciência clara do muito que há a remediar, inclusive a nível do esbanjamento sem critério dos dinheiros públicos: vide a Parque Escolar e os seus megalómanos 'mega-agrupamentos', mais a panóplia de gadgets tecnológicos imprestáveis que no reinado de José Sócrates inundaram as escolas - enquanto outras se fechavam sem contemplações por esse país fora, desertificando ainda mais um interior que a cada dia se empobrece e inviabiliza; enquanto um sem número de professores ficava no desemprego, as turmas enormes, ingovernáveis, as carreiras há anos congeladas e os salários diminuídos.

A Educação tem de ser encarada como um imperioso investimento nesse futuro que prometem, principalmente no sentido de dotar as gerações (presente, futura), dos mecanismos sem os quais este país não sairá nunca do lodo onde se atolou: conhecimentos sólidos, cultura de empenhamento e trabalho sério, responsabilização colectiva, civilidade, respeito, capacidade crítica, humanismo.

O futuro primeiro ministro de Portugal não pode repetir os erros do passado, tanto mais que se reclama como 'mudança'. E tem de ter uma consciência muito clara do que está mal, e remediá-lo, encontrar soluções. Que podem passar por deitar tudo abaixo e começar do zero, com vontade política e a coragem que se impõe. Uma casa reconstruída sobre os alicerces podres de anos e anos de dislates não pode ter outro destino senão ruir. E não podemos dar-nos ao luxo de permitir que isso aconteça.

Há que não perder de vista que nunca, como nos dois últimos governos do partido dito socialista, a escola pública foi tão intencionalmente aviltada, os seus agentes educativos tão maltratados. À frente do ministério da Educação tivemos recentemente os espécimes mais tristes de que há memória: uma mulher sádica e descompensada, de um desrespeito, um autoritarismo e uma incompetência assassinos; outra, uma tontinha seguidista, ignorante e ridícula, tão criminosa como a sua antecessora..

Durante o primado de Mª de Lurdes Rodrigues, tivemos, é certo, uma oposição parlamentar invulgarmente crítica a praticamente todas as políticas educativas de um governo incapaz, de uma ministra e um primeiro ministro arrogantes, autistas e incompetentes.
Vimos surgirem Movimentos espontâneos de professores, independentes dos sindicatos. Lemos da revolta diária em blogues e em jornais. Vimos as maiores manifestações de professores de que há memória. Tudo, com consequências zero, ou quase.
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Já com Isabel Alçada vimos ainda, num acto sem precedentes, toda a oposição parlamentar votar contra um modelo de ADD execrável e inexequível. (aqui) 
Vimos - acontecimento histórico! - o PSD juntar-se ao PCP na apresentação de um texto revogatório do referido modelo de avaliação de professores. - (aqui) 
E vimos Cavaco Silva prestar vassalagem a Mª de Lurdes Rodrigues e José Sócrates, inviabilizando o fim do que tem sido o maior factor de desestabilização das escolas, do desgaste dos professores e do respectivo, pernicioso efeito na qualidade do serviço que prestam aos alunos.
        Mais do que deputados críticos e conscientes, a Educação precisa de políticas lúcidas, sérias, pensadas. E precisa de quem as queira e saiba implementar.

        Do "estado comatoso do ensino" em Portugal  vimos, de há anos, sendo alertados por um homem - lúcido, atento, conhecedor, defensor de primeira linha da escola pública e da qualidade que ela devia ter. Que, com independência e isenção, não se cansa de apontar um dedo acusatório às leis injustas, às más políticas, venham elas de onde vierem. Que conhece os problemas da educação como ninguém. Que sobre eles vem reflectindo há anos, com seriedade, com inteligência e com uma tenacidade sem paralelo. Que partilha o seu pensamento e o fundamenta -  em crónicas do Público, entrevistas ou programas de televisão em que é chamado a intervir. Que, prestando um serviço cívico inestimável de alerta e consciencialização, se vem desdobrando em sessões para que é convidado, organizadas por escolas, livrarias, autarquias, colectividades e partidos políticos, do PSD ao BE...

        Um homem que tem o reconhecimento de praticamente toda a classe docente, que muito, muito antes destas eleições (em Setembro de 2009) lhe dedicou uma página no facebook, reclamando-o para próximo ministro da educação (ver). 
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        Que tem propostas concretas, soluções. Que muito recentemente as publicou em livro , a pedido do líder do partido que acaba de ganhar as eleições. Que o prefaciou. Que, aquando do seu lançamento e apresentação (ver), prometeu, em acto público, melhorar o seu programa eleitoral neste campo.
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        Que, em campanha, estranhamente, sobre Educação disse .. nada!
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        E agora, senhor futuro primeiro ministro, como é que vai ser? NÓS queremos saber! E temos pressa.
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