Intervenção do Professor Santana Castilho
na Antena 1
27.1. 2015
- a partir do minuto 13.20:
http://www.rtp.pt/play/p469/e181035/antena-aberta
excerto:
«Há uma intenção escondida por trás desta iniciativa do ministério, que é a de repercutir aqui, 43 anos depois, estratégias políticas que foram seguidas na Inglaterra, nos Estados Unidos, no tempo de Ronald Reagan e James Callaghan:
- colocar a responsabilidade do falhanço das escolas nos professores;
- desvalorizar a profissão;
- tornar os professores, perante a sociedade, nos responsáveis por uma série de problemas que são do “todo” do país e, com isso, conseguir proletarizar a classe, diminuir salários e, em última análise, promover a privatização do ensino e um retorno a toda uma concepção elitista do sistema educativo português.
É esta a política ‘escondida’ deste governo, em relação à qual esta prova é apenas um dos vários instrumentos usados.
Há uma outra questão sobre que importa reflectir: todos estes fenómenos que vão colhendo o interesse público têm uma raiz, que é a circunstância de nós sacralizarmos esta ideia da competição, de que tudo é mensurável em educação, esquecendo-nos nós de que a actividade lectiva é, fundamentalmente, uma actividade cooperativa, e que é a cooperação que serve as pessoas e as harmoniza, enquanto que a competição serve os números, e serve os conflitos.
Todo este ambientede conflito que hoje se vive na escola (e esta questão da PACC é apenas um dos vectores ...) é um ambiente que tem sido promovido pelo ministério da educação e designadamente por Nuno Crato e é um ambiente que, do meu ponto de vista, não serve o valor mais importante, que é o da formação de pessoas - maduras civicamente, naturalmente conhecedoras e, nos domínios das diferentes ciências, competentes para uma sociedade onde a competição é cada vez mais feroz, mas que não se pode deixar dominar, ainda que viva na tal "economia de mercado", por essa ideia, e transformar-se numa "sociedade de mercado".
É isso que Nuno Crato (e este governo) estão a procurar trazer para as nossas escolas: transformar um local de formação de pessoas num local de formação de autómatos ao serviço desta economia de mercado.