19/06/2011

Nuno Crato vs Santana Castilho - duas opiniões

em 18 de Junho de 2011:

1. 

A montanha pariu um Crato

Lamento contrariar o coro quase geral de contentamento com a escolha de Nuno Crato para Ministro da Educação, pois, considero tal notícia uma decepção, quando não mesmo o eventual resultado de uma encenação ou de um logro.
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Sempre defendi que o programa do PSD para a Educação, com ou sem "melhoria", dependia muito do Ministro que o viesse a implementar: com José Manuel Canavarro poderia ser uma quase continuidade do socratismo; com o Professor Santana Castilho (a Pessoa que, de longe, melhor conhece o terreno e estava mais bem preparada para assumir a pasta da Educação) constituiria uma ruptura com o passado e tornar-se-ia uma esperança para os professores e as escolas (milhares de professores votaram no PSD tão-só porque tinham a expectativa de que o Professor Santana Castilho pudesse assumir os destinos da Educação); com outros, como Nuno Crato ou António Rendas, que desconhecem as realidades concretas dos ensinos básico e secundário, além de umas tiradas mediáticas grandiloquentes, o programa do PSD ficará uma incógnita e uma oportunidade para experimentalismos e equívocos.
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Deste ponto de vista, considero que o PSD e o País perderam uma oportunidade única de "limpar" o Ensino e de pacificar e credibilizar a Educação.
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Aliás, não acho nada normal, nem saudável, nem transparente, que se encomende ao Professor Santana Castilho um programa eleitoral e um livro (para arrebanhar professores) e se escolha uma outra personagem ( relativamente à qual não se fez constar publicamente que tivesse participado na elaboração do programa eleitoral ou que tivesse sido usado, durante a campanha eleitoral, para levar os professores a votarem no PSD) para executar um programa que plasmou o essencial do texto do Professor Santana Castilho e lhe "plagiou" passagens do seu livro.
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Tendo em conta o processo de elaboração do programa eleitoral do PSD para a Educação, de duas, uma:
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1) o Professor Santana Castilho não aceitou o convite para Ministro da Educação, por quebra, da parte de Pedro Passos Coelho, do compromisso assumido publicamente em "melhorar" o programa eleitoral. A ser assim, ficará, mais uma vez, ilustrada a verticalidade e a fidelidade a princípios que estrutura o carácter do Professor Santana Castilho;
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2) Pedro Passos Coelho não convidou o Professor Santana Castilho para assumir a pasta de Ministro da Educação e, então, tendo em conta o processo acima referenciado, revela um oportunismo e uma instrumentalização da Pessoa e dos professores que não augurará nada de bom para o futuro.
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Vou aguardar esclarecimentos, para fazer um juízo mais definitivo e definir melhores, ou piores, expectativas relativamente àquilo com que os professores poderão contar da parte deste PSD.
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Mas, também não deixa de ser reconfortante e prometedor assistir ao alargamento da influência da direita e do centro-direita a pedantes de esquerda, habituados a zurzir no PSD e agora tão entusiasmados, senão mesmo triunfantes, com a governação que se anuncia para a área da educação. Faço votos de uma profícua e duradoura cooperação estratégica entre todos!...
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na foto, Octávio Gonçalves à esquerda, Luís Costa à direita
lançamento de "O Ensino Passado a Limpo" (nas mãos de PPC)

2.    Publicada por Luís Costa 



Embora muitos professores o estejam lamentando, poucos estarão tão desapontados como eu, neste momento, com o facto de Santana Castilho não ser o próximo ministro da Educação. Nunca escondi ― bem pelo contrário ― a minha identificação com as suas ideias e propostas. Era, por isso mesmo, o Homem que eu queria ver nessa pasta. Não o quis o destino, não o quis o PSD, ou simplesmente não o quis Passos Coelho. A escolha recaiu em Nuno Crato.

Como já tenho dito neste espaço ― e ainda ontem o sugeri ―, considero que Nuno Crato não tem a abrangência ocular do fenómeno educativo que tem Santana Castilho: o primeiro é um pragmático, por vezes em demasia, enquanto o segundo é um pensador que conhece bem a Escola por dentro e compreende melhor a interdependência dos subsistemas que a condicionam e que por ela são condicionados; o primeiro acredita que pode mudar o ensino com avaliação e exames ― disse 19 vezes “avaliação” e 27 vezes “exame” num discurso de 15 minutos sobre educação ―, ao passo que o segundo sabe que todas as peças são necessárias para se ganhar um jogo de xadrez; o primeiro é um confesso “agnóstico” relativamente às ciências da educação ― excepção feita às metodologias do ensino ―, enquanto o segundo tem uma carreira feita nessa área, embora também partilhe com ele a pouca simpatia pelo “eduquês”; o primeiro é mais “contabilista”, enquanto o segundo é mais humanista. Mas o ministro da Educação será Crato e não Santana Castilho. É, portanto, esta a realidade que é preciso encarar, sem ressentimentos, sem dramatismos, sem animosidades. Nuno Crato também se opôs frontalmente ao “lurdo-socratismo” e, creio eu, não é inimigo dos professores. É preciso, agora que é o detentor da pasta, dar-lhe tempo e serenidade.

Revejo, nas propostas de Crato ― poucas, como ele próprio afirma, mas claras e objectivas ―, algumas das ideias de Santana Castilho: o reforço da autoridade dos professores; mais autonomia das escolas na gestão do currículo; a simplificação dos programas de ensino; a generalização dos exames a todas as disciplinas, entre outras. É nesses pontos de convergência que, agora, me quero concentrar. Crato tem direito ao seu estado de graça, tem direito a fazer também a sua aprendizagem no Ministério da Educação, e também tem direito a rever e a enriquecer algumas das suas ideias e convicções. Vamos dar-lhe esse tempo e esse espaço. Entretanto, seria bom que Pedro Passos Coelho lhe oferecesse três exemplares de O Ensino Passado a Limpo, para ele ter sempre à mão ― em casa, no carro e no gabinete ―, em caso de emergência.
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