25/05/2011

Pacheco Pereira, Maria de Lurdes Rodrigues e as Novas Oportunidades

in Público, 25/5/2011
mais um artigo de Santana Castilho - sábio, certeiro, frontal


1. Em artigo intitulado “Notas de campanha (1)”, Pacheco Pereira classifica de “reprimenda mal-educada” a Passos Coelho aquilo que eu disse sobre o programa do PSD para a Educação. Pacheco Pereira foi atrevido. Falou do que não conhecia. Deturpou e distorceu. Porque não aceito lições de Pacheco Pereira, ignoraria a diatribe, não fora o respeito que me merecem os leitores do “Público”, que cumpre esclarecer. Passos Coelho prefaciou um livro meu e apresentou-o. O livro é um contributo para um programa de actuação política no domínio da Educação. Por iniciativa própria, Passos Coelho esclareceu aspectos de uma colaboração que me pediu. E entendeu, naquele acto público, referir o meu desapontamento (que lhe comuniquei em privado) com a versão final do programa eleitoral para a Educação do PSD e anunciar que o iria melhorar. Passos Coelho falou antes de eu ter falado e teve a hombridade de reconhecer (coisa pouco usual na prática política corrente) que o programa devia ser melhorado. Porque foi Passos Coelho a tomar a iniciativa de se referir ao que eu não abordaria na apresentação do livro, entendi escolher, para o referenciar, os aspectos que melhor poderiam servir a decisão, autónoma e prévia, (e sublinho o “prévia”) de Pedro Passos Coelho. Do espírito e da forma do que foi dito, quer por Passos Coelho quer por mim, ressaltou frontalidade e cordialidade. Só por ignorância ou má fé alguém pode falar de má-educação. A sala estava cheia. Duzentas pessoas podem testemunhar o que aqui fica, preto no branco. E Pacheco Pereira não estava lá. Ficar-lhe-á bem pedir desculpa.
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2. No livro acima referido, defendo a necessidade de “auditar, do ponto de vista financeiro, pedagógico e científico, o programa Novas Oportunidades”. Passos Coelho, que tem, em boa hora, vindo a introduzir, em sede de pré-campanha, temas ausentes do programa eleitoral para a Educação, assumiu e comprometeu-se com a auditoria proposta. E afirmou, bem, que tem sido diplomada a ignorância. É natural que os responsáveis por aquilo que se denuncia reajam com as habituais tentativas de manipulação da opinião pública. Um artigo de Maria de Lurdes Rodrigues, dado à estampa no “Expresso”, é um belo paradigma de distorção da realidade. Socorro-me dele para desmontar os falsos argumentos com que se tentou (Marcelo Rebelo de Sousa incluso) atacar a legitimidade da denúncia protagonizada por Passos Coelho. Pedro Passos Coelho disse que se tem diplomado a ignorância. Não disse que todos os diplomados são ignorantes. Há centros de formação sérios e que funcionam bem. Mas não são, infelizmente, a regra. É simples demagogia, pois, o que escreve a ex-ministra da Educação, quando afirma que se chamou “ignorantes aos adultos que frequentam o programa”. Quando se fala de diplomar a ignorância, refere-se, por exemplo, a atribuição de um certificado de ensino secundário a alguém que, ao redigir uma das famosas dissertações autobiográficas da ordem, se expressa como ilustrado neste naco de prosa, transcrito de um documento que serviu para certificar:
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“… Como já disse anteriormente tenho um filho e uma filha, em que ele è mais velho cinco anos … Ando sempre a fazer-lhe ver as coizas. até já lhe tenho dito se tiver a inflicidade de falecer nôvo paça a ser ele o homem da casa e tomar conta da mãe e mana, mas para eleé difícil de compreender as coisasezes mas tantas vezes lhe faço ver as coizas que acabo por compreender as situações e acaba por me dar razão e por vezes até me pede desculpa e que para a procima já não comete os mesmos erros. Ele tem o espaço dele com a mãe em que não me intrumeto, desde mimos e converças porque graças s Deus nem eu nem ele temos siumes um do outro com a mãe…”
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Quando o designado “júri” certificou este candidato, a prosa transcrita estava certamente corrigida por um professor escravizado, com filhos para alimentar e renda de casa para pagar, contratado à jorna por um CNO (Centro de Novas Oportunidades), que só é financiado pela famigerada ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) se “cumprir os objectivos”, isto é, se emitir x certificados de nível básico e y de nível secundário. O problema é que a um candidato que se expressa assim seja outorgado um certificado de ensino secundário. O problema entende-se vendo as dezenas de milhões de euros gastos em publicitar este logro e retrocedendo na lógica socialista: se não se certificam os candidatos, os centros não têm clientes; se os centros não têm clientes nem cumprem os objectivos, não recebem dinheiro; se não recebem dinheiro, não pagam aos professores contratados à jorna; e se estes não alinham no logro, a sua subsistência complica-se e a dos filhos também. É a vida a evidenciar a lógica da gestão por objectivos, sem ética. Mas não é destas oportunidades que os cidadãos e o país carecem.
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Maria de Lurdes Rodrigues e seguidores chamam elitistas aos que não confundem a qualificação séria com a certificação da fraude pedagógica. Maria de Lurdes Rodrigues invoca a avaliação externa do programa, quando sabe que a respectiva qualidade nunca foi avaliada (como honestamente esclareceu o próprio responsável por tal avaliação). Maria de Lurdes Rodrigues pretende fazer passar histórias de vida redigidas em português deplorável por formação profissional digna. E foi disso que Pedro Passos Coelho falou, com razão.

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

15/05/2011

educare - entrevista a Santana Castilho

in www.educare.pt
© 2000-2011 Porto Editora

aqui

“Impuseram, à bruta, um sistema de classificação inqualificável”
Sara R. Oliveira | 2011-05-11
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O professor Santana Castilho critica, sem rodeios, o estado da Educação no seu novo livro. A obra é lançada amanhã e, entre muitos assuntos, aborda a perda de autoridade dos professores e revela que 27% dos pacientes dos psiquiatras são docentes.
Santana Castilho, professor de Organização e Gestão do Ensino, vai direto ao assunto. Na sua opinião, a sociedade tem vindo, gradualmente, "a perder a noção que o sistema de educação serve pessoas". As suas ideias são apresentadas no livro O Ensino Passado a Limpo - Um sistema de ensino para Portugal e para os portugueses, editado pela Porto Editora e lançado amanhã. Uma crítica dura ao estado da educação no nosso país.

"Os professores perderam o poder porque se endeusaram políticas de falsa promoção de sucesso escolar, afogando-os em burocracias sem sentido, impeditivas do cumprimento da sua missão nobre: ensinar", refere nesta entrevista, sustentando que há uma crise de autoridade na escola.

O facilitismo e a indisciplina são, na sua perspetiva, os grandes problemas do Ministério da Educação. Aponta o dedo ao fabrico de resultados estatísticos imediatos, garante que tudo falhará se se continuar a reformar por decreto e defende a autonomia das escolas e a extinção das direções regionais de educação. "A vida dos docentes está submersa por papéis, processos, reuniões e práticas administrativas sem sentido, inúteis, ineficazes e doentiamente kafkianas", avisa no seu livro. E mais: os professores portugueses trabalham, em média, mais 83 horas por ano do que os colegas da OCDE.


A educação é um direito. Refere que é um "disparate" ter os portugueses na escola até aos 18 anos e está cansado das iniciativas que garantem os direitos das minorias prevaricadoras e não das maiorias cumpridoras. Em seu entender, é preciso alterar o modelo de gestão das escolas, auditar a atividade da Parque Escolar, debater publicamente os programas escolares e recuperar os exames nacionais a todas as disciplinas. "A educação nacional foi, nos últimos seis anos, governada por snipers da portaria e do despacho, que usurparam a democraticidade e destruíram a cooperação", escreve na sua obra.

Um livro que desmonta várias situações e que aponta caminhos que podem ser escutados e integrados numa nova política educativa. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, assina o prefácio. "Aqui se procura, com grande pragmatismo mas sem perda de um sólido quadro de referência programática, apontar orientações e soluções suscetíveis de serem incorporadas num programa de ação política governativa", sublinha o social-democrata.


EDUCARE.PT: Refere, no seu livro, que há uma crise de autoridade na escola. Os professores perderam o "poder" que tinham? Alterar o Estatuto do Aluno poderá ser uma forma de recuperar o "respeito"?
Santana Castilho: Os professores perderam o poder porque foram sistematicamente vilipendiados e apontados como responsáveis pelos erros dos políticos. Os professores perderam o poder porque se endeusaram políticas de falsa promoção de sucesso escolar, afogando-os em burocracias sem sentido, impeditivas do cumprimento da sua missão nobre: ensinar.

Os professores perderam o poder porque quiseram, mal, que eles substituíssem a responsabilidade primeira dos pais: fornecerem aos filhos regras de conduta civilizada, sem as quais nenhuma escola funciona, por melhores que sejam os professores. Os professores perderam o poder porque políticos demagógicos se esqueceram que o direito à educação é indissociável do dever de estudar e trabalhar, missão do aluno. Neste contexto, a alteração do Estatuto do Aluno ajudará a trazer uma nova ordem à escola. Mas é apenas um aspeto de um trabalho pesado, que pesa sobre o próximo Governo. O Estado tem vivido em licença sabática, ocupado a servir a sua corte. Há que acordá-lo para que sirva todo o país e todos os portugueses, a sua missão, afinal.


E: Critica duramente o modelo de avaliação, referindo que é "tecnicamente uma nulidade e politicamente um desastre". Contra a avaliação ou a favor de um outro método avaliativo?
SC: A avaliação é uma coisa distinta da classificação. Um primeiro-ministro e uma ministra da Educação ignorantes e que odiaram os professores confundiram os dois conceitos e impuseram, à bruta, um sistema de classificação inqualificável.

Não sou contra a avaliação, desde que seja exequível e contribua para melhorar a qualidade do sistema de ensino e a qualidade do desempenho dos professores. Qualquer inteligência média compreende isto. Infelizmente, muitos políticos e comentadores não compreenderam e continuam a não compreender.

E: Sustenta que tudo falhará se se insistir em reformar por decreto e defende a autonomia das escolas. Neste sentido, qual seria o papel do Ministério da Educação?
SC: Definir as políticas, garantir a qualidade do sistema de ensino (e o que se entende por qualidade também tem de ser definido), zelar pela eficiência do sistema (porque o dinheiro dos contribuintes tem de ser bem gasto e com resultados), supervisionar e apoiar construtivamente as escolas e os professores no seu exercício profissional autónomo.

E: Avaliar as atividades da tutela é uma das medidas que propõe no seu livro. Desconfiado com a atuação do Ministério?
SC: Como em qualquer sistema, quem dirige é o primeiro interessado em ter elementos constantes que permitam corrigir rotas mal traçadas. Um Ministério da Educação não é um califado a que se deva obediência cega, ou um papado infalível. Não é uma questão de desconfiança. É uma questão de mudança de paradigma. Auscultar o que os portugueses pensam da aplicação das políticas delineadas pelo Ministério da Educação parece-me ser um belo começo para que professores, pais e alunos se sintam cada vez mais como entidade coesa.
Utopia? Talvez! Mas um grande Professor (a maiúscula é intencional), que também foi poeta, ensinou-nos, há muito, que o sonho comanda a vida.

E: Escreve que o facilitismo e a indisciplina são os problemas maiores do Ministério da Educação. Em que se refletem esses problemas?
SC: Na falta de seriedade do sistema de ensino, na ausência de condições de base para que os professores possam trabalhar e na falta de futuro dos nossos filhos e netos.


E: O que se ganharia com a extinção das direções regionais de educação, como sugere?
SC: O que se ganha quando se removem excrescências moles, que de nada servem a não ser complicar o normal funcionamento do sistema. Defendo, como sabe, a ampla autonomia das escolas e a responsabilização plena dos seus agentes pela respetiva missão. Neste quadro, ter uma corte de burocratas de serviço, que são meras correias de transmissão de um poder centralizado, que também combato, seria impensável. Tanto mais que consomem uma boa maquia dos impostos dos portugueses.

E: Estamos perante um sistema de ensino que não funciona? Diz que copiar modelos do estrangeiro nem sempre resulta...
SC: Não resulta nunca. Temos a nossa cultura e os nossos problemas específicos.

E: Por que razão afirma que é um "disparate" ter os portugueses na escola até aos 18 anos?
SC: Como pai, não aceito que o Estado decida por mim e pelos meus filhos a educação que eles prosseguem. Como cidadão, quero liberdade para trabalhar aos 16 anos, como, aliás, o próprio Código do Trabalho consigna. Deve o Estado garantir a todos que queiram e tenham capacidade para tal, sublinhe-se, a prossecução de estudos, sem entraves. Mas não deve o Estado impor a escola a quem já pode ser responsabilizado por crime, sabe o que faz e quer ir trabalhar. Porque, ao invés de ser compulsiva, a educação deve ser tida como um direito. Chega de Estado que diz proteger-nos de tudo menos dele próprio.

Ao argumento anterior, que é teórico, acrescem outros, de natureza prática. Os nove anos de ensino obrigatório, aprovados em 1986, demoraram 10 anos a transpor para a prática efetiva. Ainda hoje não são cumpridos na íntegra. Manter na escola, à força e à pressa, quem lá não quer estar ou não tem capacidade para prosseguir estudos, acrescentará mais violência e mais indisciplina a um ambiente que já é grave. Tal medida, a não colher o primeiro argumento, pressuporia uma preparação, que não foi feita, para receber os estimados 30 000 novos alunos. Pressuporia uma reformulação completa dos objetivos e das vias do ensino secundário, principalmente quanto ao ensino profissional que, como está, é um logro. Pressuporia a efetiva gratuitidade do ensino, que está longe de estar cumprida no quadro dos nove anos até há pouco vigentes.

Se uma das causas do atual abandono, que se aproxima dos 36%, radica nesta variável, alguém de bom senso antecipa que a sociedade, com dois milhões de pobres e dois milhões de assistidos, mais de meio milhão de desempregados e magro PIB, pague para ficar com os filhos 12 anos sentados na escola? Com outros salários, com outro nível de vida, talvez. Assim, obviamente que não! E não me venham com a falácia das bolsas, que um Estado quase falido não vai poder pagar. É só olhar para a história de 2005 a 2011 para perceber que estamos nos antípodas da seriedade e no terreno do mais rudimentar marketing político.

E: Por outro lado, defende que as crianças só devem entrar na escola aos sete anos...
SC: Não defendo, liminarmente. Penso que seria uma boa medida, por acautelar, em termos genéricos, uma outra maturidade à entrada no ensino obrigatório. Proponho que se discuta o tema e se ouçam os especialistas.

E: O debate público dos programas escolares é, na sua opinião, um caminho para que os currículos sejam mais eficazes?
SC: Sim, mas falo de um debate público com organizações qualificadas.

E: Critica a atuação do Governo nos últimos dois mandatos, desconstrói alguns discursos de José Sócrates, coloca em causa a amostra utilizada no PISA, refere que se protege mais a minorias prevaricadoras do que as maiorias cumpridoras, revela que 27% dos pacientes dos psiquiatras são professores. O que mais o preocupa neste mundo da educação?
SC: A síntese do que me preocupa é o próprio livro. Mas, se quiser uma síntese da síntese, dir-lhe-ei: temos, gradualmente, vindo a perder a noção que o sistema de educação serve pessoas.

14/05/2011

lançamento de "O Ensino Passado a Limpo"

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ou .. a sabedoria de um Homem no que foi, provavelmente,

o acontecimento político da semana :
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 um livro e o prefácio dele, 
o programa que o boicotou 
e o comprometimento de o alterar ..




"O Ensino Passado a Limpo", de Santana Castilho
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- fotografias do lançamento no hotel Tiara Park, em Lisboa
- 12 de Maio de 2011:

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Fraústo da Silva (um ex-ministro da Educação) comprando o livro de S. Castilho
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Santana Castilho com Fraústo da Silva, cujo gabinete integrou no 8º gov constitucional
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Passos Coelho na apresentação do livro cujo prefácio escreveu ..
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a sala cheia e uma audiência maioritariamente constituída por professores
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Santana Castilho: aos homens de palavra e aos comprometimentos  ..

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ecos do acontecimento na imprensa e nas televisões:
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  • Passos Coelho promete melhorar programa para a educação (JN - 12 de Maio, aqui)
  • no lançamento de "O Ensino Passado a Limpo", excertos de entrevistas a SC e PPC - TVI24 - aqui
  • da Sic notícias:  aqui
  • da RTP notícias, intervenção de Santana Castilho (áudio) - aqui 
  • da TSF (13/5/11), uma boa síntese - aqui

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        11/05/2011

        Quem faliu o país não foi ele, fui eu. O poder do silêncio.

        in Público, 11 de Maio de 2011

        Quem faliu o país não foi ele, fui eu.
        O poder do silêncio.

        Santana Castilho *


        1. Nós, eleitores, somos avessos à mudança. É só olhar para a história da nossa democracia. Avessos à mudança, conservadores e medrosos. A irracionalidade do medo, digo eu, não permitirá a 30 por cento dos eleitores, dizem as sondagens, ver que o Estado protector foi posto em licença sabática, substituído dissimuladamente pelos interesses e pelas empresas do regime e está falido. Isso, com todas as letras, falido. Se tudo correr bem, teremos salários porque nos vão emprestar 78.000 milhões de euros. Mas não desaparece o problema. Desaparece o aperto com que o aventureirismo e a irresponsabilidade de Sócrates nos arrastaram para a vergonha internacional. O chefe da equipa do FMI foi claro quando referiu, publicamente, que a situação a que chegámos, isto é, não termos reservas para satisfazer compromissos se não vierem em nosso socorro já em Maio, obrigaria a que o pedido de resgate tivesse sido apresentado há muito tempo. O problema, esse, foi-nos caindo em cima à medida que os armários se abriram, a toque do FMI e parceiros: a caminho dos 2.250 milhões de euros de défice na Parque Escolar, EP; 6.026 milhões na Refer; 3.627 milhões no Metro de Lisboa; 2.337 milhões no metro do Porto; 21.200 milhões na totalidade das empresas públicas; 645.000 mil crianças sem abono de família em seis meses; 700 mil desempregados, que serão um milhão até 2013; 195 milhões a cortar á Educação em 2012, mais 175 em 2013, que se somam aos 800 já cortados (a paixão pela Educação cede o passo ao combate pela sobrevivência). E, apesar disto e de a lista crescer diariamente, muitos são os que persistem em votar em Sócrates. Quando penso neste empenhamento colectivo com Sócrates, a memória leva-me inexoravelmente à pergunta que a campanha de John Kennedy, referindo-se a Richard Nixon, dirigiu aos cidadãos eleitores em 1960: “Você compraria um carro em segunda mão a este homem?”.

        Se Passos Coelho ou Paulo Portas, por hipótese, glosarem Kennedy, tranquilizem-se as consciências abalroadas pelos números. Eu gloso Bocage e confesso publicamente: quem faliu o país não foi ele, fui eu.
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        2. Por aí no fim da década de 80, num daqueles cursos da moda, sobre liderança, distribuía-se aos participantes um extracto do livro “Si Je Mens”, de Françoise Giroud, fundadora do “L’Express” e figura destacada da resistência francesa. A força do texto levou-me, na altura, à leitura do livro. Acho oportuno partilhá-lo agora com os leitores, em tradução livre, recordando que Chamberlain, membro do Partido Conservador, foi o primeiro-ministro do Reino Unido, de 1937 a 1940. 

        “ Quando Chamberlain compreendeu que não era o primeiro-ministro adequado a liderar o Reino Unido em guerra, escolheu, ele próprio, como era tradição no partido conservador inglês, o seu sucessor. Designou lorde Halifax. Mas, Chamberlain queria um governo forte e sabia, por isso, que era indispensável que Churchill fizesse parte do elenco. Convocou-o e disse-lhe:

        - Halifax é o melhor, mas temos necessidade de si. Aceita ser o número dois?

        Churchill, por patriotismo e por dever, por essa autêntica grandeza que é a abnegação face a um interesse superior, disse que sim. 

        Horas depois, um homem que tinha talento, lorde Beaverbrook, magnata da imprensa inglesa, pediu a Churchill para o receber com urgência e disse-lhe:

        - Não é possível! Aceitou que seja Halifax o primeiro-ministro?

        Churchill respondeu que se tratava de um negócio de Estado e que não o iria discutir com ele. Beaverbrook insistiu. Churchill respondeu que não tinha outra saída. E Beaverbrook voltou à carga:

        - É um crime contra a Nação! Só você poderá mobilizar a Grã-Bretanha.

        No fundo, Churchill concordava com Beaverbrook. Mas objectou que tinha dado a sua palavra e que não voltaria atrás. Então, Beaverbrook disse:

        - Peço-lhe, ao menos, uma coisa. Quando for convocado por Chamberlain, com Halifax, e Chamberlain lhe perguntar se confirma a sua aceitação, fique em silêncio durante três minutos. Três minutos completos. Cento e oitenta segundos, antes de dizer sim. Em nome da Inglaterra, peço-lhe!

        Churchill achou isto impertinente e não viu como isto poderia mudar a situação. Mas, como tinha amizade e estima por Beaverbrook, prometeu-lhe que o faria.

        No dia seguinte, Churchill e Halifax encontraram-se no gabinete de Chamberlain, na Dowing Street. Chamberlain pediu a Churchill:

        - Pode confirmar, se faz favor, a lorde Halifax, que aceita fazer parte do seu governo?

        E Churchill ficou calado. Passou um minuto, e Churchill continuava em silêncio. Minuto e meio depois, Churchill permanecia em silêncio. Ainda não tinham transcorrido os três minutos, lorde Halifax não aguentou, exclamou e saiu:
        - Creio que é Winston Churchill que deve ser o primeiro-ministro!

        O mínimo que se poderá dizer é que estes três minutos tiveram um papel da máxima importância na história da Segunda Guerra Mundial.”

        Eis o poder do silêncio!

        Sobre o que eu entendo que deve ser feito para tirar a Educação nacional da bancarrota, falo em livro, amanhã, às 18.30. Chama-se “O Ensino Passado a Limpo” e será apresentado por Pedro Passos Coelho. Acontecerá na Sala Porto do Hotel Tiara Park Atlantic (anterior Meridien), na Rua Castilho, 149, em Lisboa, passe a publicidade. Todos os meus leitores estão convidados e serão bem-vindos. Depois, silêncio. Até que o compreendam ou eu o quebre.

        * Professor do ensino superior

        10/05/2011

        O Ensino Passado a Limpo : sinopse, prefácio, divulgação

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        O Ensino Passado a Limpo
        Um sistema de ensino para Portugal e para os portugueses
        de Santana Castilho 



        do editor:

        Uma visão para o Ensino em Portugal
        Livro de Santana Castilho apresentado por Pedro Passos Coelho na próxima quinta-feira, 12 de maio.
        10-05-2011

        Numa altura em que se exigem novas estratégias para os vários setores fundamentais da nossa sociedade, Santa Castilho apresenta, em livro, o que pode ser considerado como um resumo de um programa de atuação política na área da Educação.

        "O Ensino Passado a Limpo é assumidamente um contributo público para um novo programa de atuação política no domínio da Educação". Assim escreve Pedro Passos Coelho, Presidente do Partido Social Democrata, no início do prefácio que assina no novo livro de Santana Castilho, publicado pela Porto Editora.

        Perspetivando um "sistema de ensino para Portugal e para os portugueses", Santana Castilho aborda temas que considera "incontornáveis para devolver ao sistema de ensino eficácia, coerência e dignidade, às escolas e aos professores estabilidade e paz para cumprirem a missão de ensinar e aos alunos instrumentos minimamente sólidos para se desenvolverem e enfrentarem o futuro".

        A sessão de lançamento de O Ensino Passado a Limpo realiza-se na próxima quinta-feira, 12 de Maio, pelas 18:30, na Sala Porto do Hotel Tiara Park Atlantic Lisboa (Rua Castilho, 149).

        A apresentação do livro estará a cargo do Dr. Pedro Passos Coelho, Presidente do Partido Social Democrata.

        Porto Editora
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        na contracapa, sinopse:

        Santana Castilho considera que a história da gestão do sistema de ensino português é a história da incoerência e da falta de visão estratégica e que os diagnósticos correctos, que não nos faltam, foram sistematicamente pulverizados por 37 anos de inépcia do aparelho ideológico que domina o Ministério da Educação.

        Tomando por referência a sua continuada reflexão sobre as políticas educativas adoptadas, particularmente pelos dois últimos governos, Santana Castilho adianta achegas para a preparação de um programa para a Educação, que ponha cobro ao histerismo reformista continuado e promova a refundação técnica e científica do sistema de ensino, com o envolvimento da comunidade escolar.

        Longe de ser exaustivo, este livro cinge-se aos domínios de intervenção que o autor considera actualmente incontornáveis, para devolver ao sistema de ensino eficácia, coerência e dignidade, às escolas e aos professores estabilidade e paz para cumprirem a missão de ensinar e aos alunos instrumentos minimamente sólidos para se desenvolverem e enfrentarem o futuro.

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        o prefácio de Pedro Passos Coelho:

        “O Ensino Passado a Limpo” é assumidamente um contributo público para um novo programa de actuação política no domínio da Educação. O seu autor, Professor Santana Castilho, é uma das personalidades que, com grande independência e não menor pertinência, mais se tem destacado em Portugal no debate sobre a política educativa. Habituei-me, sobretudo ao longo destes intensos anos que marcaram a última década, a ler e ouvir muitas das suas críticas e propostas, na forma de entrevistas, artigos e edições dedicadas a esta temática. Não escondo que, à medida que se adensavam as conturbações trazidas pelas sucessivas tentativas de reforma educativa, mais certeiras me foram parecendo as suas observações críticas e maior simpatia fui sentindo pela sua análise serena mas acutilante.

        É, pois, com muita satisfação que aceitei prefaciar esta nova síntese sobre o estado do Ensino e das políticas de Educação. Aqui se procura, com grande pragmatismo mas sem perda de um sólido quadro de referência programática, apontar orientações e soluções susceptíveis de serem incorporadas num programa de acção política governativa. Não sendo exaustivo nas matérias que tipicamente se ocupam da designada reforma educativa, o autor é feliz na selecção dos temas que aborda, já que estabelece uma proposta realista de prioridades de acção que se adequa bem à hierarquia dos problemas a merecer resposta mais urgente no ponto a que chegámos em matéria de resultados na Educação.

        Como contributo individual, esta obra representa um esforço de cidadania que só posso louvar e agradecer na minha qualidade de responsável político. E dada a forma aberta e plural como a obra se nos revela, cada um dos seus potenciais destinatários e leitores é livre de assumir o seu conteúdo de acordo com a utilidade que lhe encontrar. No meu caso, é evidente que vejo a presente edição como muito útil para a definição dos passos a dar neste domínio no futuro próximo.

        Aproveito assim a oportunidade que me é dada nestas linhas para realçar três aspectos preambulares que considero importante juntar à abordagem aqui trazida pelo Professor Santana Castilho. O primeiro é o de que a reforma educativa não se resume à sua base legal, sendo que esta nem é mesmo a sua componente mais relevante. Como acontece em quase todos os domínios, a acção reformadora implica o desenvolvimento de transformações e de mudanças que não se operam simplesmente porque assim se determinou por via legal. O país não muda por decreto e a Educação e o Ensino também não. Quem realiza verdadeiramente as transformações são os múltiplos agentes que operam e intervêm diariamente no processo educativo, sendo o legislador apenas uma das partes envolvidas. Neste sentido, a s reformas só estarão adquiridas se aqueles que são os agentes da mudança as tomarem como suas também. Não significa isto que um processo reformista tenha de ser normalmente consensual, mas se for por princípio tomado como sendo de carácter impositivo ou “confrontacional” tenderá a ser rejeitado como se se tratasse de um qualquer corpo estranho e a deixar as marcas próprias desse tipo de defesa com que os organismos vivos reagem. É assim do puro domínio da boa Política perceber estes processos e liderá-los numa base de parceria para que possam ser bem-sucedidos.

        Em segundo lugar, será útil recordar que “o óptimo é inimigo do bom” e que a melhor reforma é a que responde a um correcto diagnóstico dos problemas e que assenta numa base realista de possibilidades e de recursos existentes. Não vale a pena, portanto,” fazer batota” e tentar mascarar a realidade com estatísticas elaboradas com esse propósito, como tantas vezes tem sucedido por exemplo com o facilitismo induzido por provas de avaliação que não traduzem a realidade das competências e do nível de conhecimentos adquiridos. Nem vale a pena produzir programas curriculares onde parece querer meter-se “o Rossio na rua da Betesga” quando, na verdade, a prática reiterada mostra que era possível e desejável estabelecer metas e objectivos aparentemente menos ambiciosos mas certamente mais úteis e bem-sucedidos.

        Por fim, é importante reconhecer que os últimos anos têm trazido uma burocratização insuportável em torno de todo o processo educativo, descaracterizando as missões dos diversos intervenientes, sobretudo notório no caso dos professores, e desvirtuando o propósito implícito aos procedimentos, como foi o caso mais revoltante da avaliação de desempenho. É urgente, por tudo isto, simplificar procedimentos e prescrições administrativas e apostar na focagem sobre os objectivos de qualificação e exigência do ensino, valorizando os agentes que melhor podem responder por esses objectivos. A ansiada pacificação das escolas deverá ser acompanhada de maior autonomia e responsabilização de cada uma das unidades e de um recentrar do Ministério da Educação como garante e regulador da política pública.

        As más políticas e a instabilidade têm provocado estragos grandes que não têm de ser irreversíveis se actuarmos depressa. Mas só a boa resposta política pode ser capaz de restaurar a nossa capacidade para mudar no sentido que é necessário e desejado pela maioria. Esta obra ajuda-nos a concretizar essa mudança.
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        09/05/2011

        do livro de SC e do programa eleitoral do PSD

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        dois posts de Ramiro Marques, do Profblog:
        • sobre o programa eleitoral do PSD para a Educação: «Já li o livro de Santana Castilho "O Ensino Passado a Limpo" e posso assegurar que não dedica uma linha à criação da carreira de diretor.» - aqui
        • entrevista (*) a Santana Castilho (8/5/2011), a propósito do lançamento do seu novo livro, O ENSINO PASSADO A LIMPO (12 de Maio, 5ª feira, 18h30m)

        (*) retirada daqui 
        - transposta para este blogue, na página "entrevistas" - ver aqui

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        comentários críticos ao programa eleitoral do PSD para a Educação:
        • "Assim não, Passos Coelho, assim NÃO,!" (AL) - aqui
        • "O programa de Educação do PSD arruína o pouco que resta da autoridade dos professores" (OG) - aqui 
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        07/05/2011

        lançamento do livro: O Ensino Passado a Limpo


        No próximo dia 12 de Maio (5.ª feira) pelas 18.30, Santana Castilho vai lançar o seu novo livro — O Ensino Passado a Limpo - Sala Porto do Tiara Park Atlantic Lisboa (Rua Castilho, n.º 149, Lisboa - metro: Marquês) 
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        A apresentação estará a cargo de Pedro Passos Coelho, que também o prefacia.
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        «As personalidades e o momento escolhido para o lançamento abrem uma ampla janela de esperança para o futuro da Educação em Portugal. » - LC

        Publicada por Luís Costa aqui
        Quarta-feira, Maio 04, 2011
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        também por Luís Costa, a não perder :
        - o bisturi de Santana Castilho - aqui
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