29/11/2016

Fidel Castro, o revolucionário mais icónico do século XX

Curto e claro

Numa das suas últimas intervenções públicas, no encerramento do Congresso do Partido Comunista Cubano, Fidel Castro falou da sua morte:

"Em breve vou fazer 90 anos. Isso nunca me tinha passado pela cabeça e não foi fruto de um esforço. Foi capricho da sorte. Em breve serei como todos os outros. A vez chega a todos, mas ficam as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se se trabalha com fervor e dignidade, se podem produzir os bens materiais e culturais de que os seres humanos precisam e devemos lutar sem trégua para os obter”.

Na manhã de hoje, Fidel Castro será cremado. Reduzido a cinzas, passará a ser como todos os outros. Mas não foi como todos os outros. Nenhum como ele tentou um desenvolvimento independente contra um bloqueio desumano, de um vizinho forte, que já tinha feito de Cuba o bordel da América.

Violentamente odiado por uns, apaixonadamente amado por outros, é agora como todos seremos. Deixem que a história arrefeça para o julgarem e respeitem-lhe a morte.

Hoje, milhões de crianças morrerão com doenças que poucos dólares curariam. Nenhuma será cubana.
Hoje, milhões de crianças ainda não vão à escola. Nenhuma será cubana.
Hoje, milhões de crianças dormirão na rua. Poucas serão cubanas.

17/11/2016

Um reality check às políticas para a Educação

no Público
17 de Novembro de 2016

por Santana Castilho*

Ao completarem-se 30 anos sobre a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo, este poderia ser o momento adequado para fazermos um balanço rigoroso dos caminhos que a Educação trilhou em democracia e, sobretudo, para definirmos o que queremos para o futuro.

Ao optar hoje, neste contexto, por um reality check, passe o estrangeirismo, às políticas do PS para a Educação, o meu objectivo não é opor-lhes certezas (que as tenho) mas antes confrontá-las com as interrogações e as perplexidades que suscitam. Com efeito, são as perguntas que podem ser feitas que mostram que as coisas vão acontecendo de modo imprudente, mais por reacção ao fundamentalismo de Crato que por ponderação da oportunidade, da qualidade e da justeza das políticas. Tudo beneficiando de um caudal de águas mornas de aceitação dos problemas mal resolvidos pela impreparação de Tiago Rodrigues e pelos excessos de Alexandra Leitão.

Cedo se tornou claro que a iniciativa pertencia à AR e que o PS não tinha problemas identificados e prioridades estabelecidas. Primeiro foram abolidos os exames nacionais de Matemática e Português do 1º ciclo do ensino básico, na manhã seguinte à tomada de posse do Governo, cujo programa não continha tal medida. Seguiu-se a extinção da PACC, de novo ao arrepio do programa, que apenas estabelecia a suspensão da prova, “procedendo à reponderação dos seus fundamentos, objetivos e termos de referência”. Estranhamente, os deputados do PS votaram contra o programa do seu próprio Governo, António Costa mostrou na AR que não o conhecia e o ministro da Educação, ao invés do que aconteceu, havia garantido que não seriam tomadas decisões sobre os exames sem ser ouvida a comunidade educativa. Não ficou claro quem mandava e quem engolia os sapos?

Seguiu-se a urgência desgarrada de impor, a meio de um ano lectivo, a trapalhada do “Modelo Integrado de Avaliação Externa das Aprendizagens no Ensino Básico”, que recuperou provas que já usámos e se revelaram inúteis, confrontou alunos e professores com três modelos de avaliação, três, num só ano e obrigou à intervenção “salvadora” de Marcelo. Não ficou profetizada a incompetência pedagógica que se seguiria?

No início de 2016, as “Grandes Opções do Plano” alargaram a todos os alunos do ensino básico o conceito, de Maria de Lurdes Rodrigues, de “Escola a Tempo Inteiro” (permanência na escola das 08.30 às 19.30). Não é verdade que o PS ainda não percebeu que mais escola não significa melhor educação? Que cada vez mais as crianças não são crianças? Que não têm tempo para brincar livremente, a actividade mais séria do seu crescimento?

No mesmo documento, o PS lamentava que a taxa de “escolarização efectiva antes dos três anos” fosse apenas de 45,9% e regozijava-se por essa taxa ficar, ainda assim, “claramente acima dos 27,7 % da Finlândia”. Não é verdade que o PS ainda não percebeu que, no caso vertente, taxa baixa é melhor que taxa alta? Que só cresce a necessidade de mais berçários porque aumenta o peso do trabalho desregulado e mal pago? Que a falta de tempo para os pais se dedicarem ao crescimento dos filhos é um problema social real e grave, que não se resolve substituindo pais por professores e técnicos?

Por que razão permanecem incólumes as burocracias sem sentido, que penalizam drasticamente as condições de trabalho dos professores e, por essa via, roubam tempo e dedicação ao ensino dos alunos?

Compreende-se que nada tenha sido feito para alterar o estatuto do ensino particular e cooperativo quando se tomaram medidas efectivas que o derrogaram?

Aceita-se que as mesmas forças políticas que tanto zurziram a denominada municipalização da Educação permitam o avanço dissimulado do processo?

Compreende-se que na legislatura que queria virar a página os agrupamentos, o modelo de gestão das escolas e o estatuto da carreira docente, de Maria de Lurdes Rodrigues, ainda brilhem como se fossem a última Coca-Cola no deserto?

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

15/11/2016

convite: "Portugal: O Futuro É Possível"

A apresentação da obra será no dia 16 de Novembro (quarta-feira), pelas 18h30, na Biblioteca dos Paços do Concelho - Câmara Municipal de Lisboa.

(clicar para ampliar)

 

10/11/2016

“America's Brexit”

retirado daqui

Curto e Claro

“America's Brexit”

Embora literalmente “bocejado” pela sorte de ainda aguentar “directas” (refiro-me, do mesmo passo, a uma noite sem dormir e às eleições americanas) é ousado escrever de cabeça zonza. Leiam tudo, que será curto. E sejam generosos, se não resultar claro.

Por todo o mundo, cada vez mais se verifica que os cidadãos já não se dão ao trabalho de votar. Talvez porque pouco muda, eleição após eleição, epifenómenos menores de uma ordem mundial maior (leia-se financeira e corrupta). Não foi assim com o Brexit, não foi assim nestas eleições americanas. Talvez porque cansados, desiludidos com o poder do dinheiro e com a supremacia da ordem global, os cidadãos preferem arriscar no que não conhecem a viver com o que conhecem.
Ninguém sabe o que será a América de Donald Trump, que, importa sublinhar, conquistou também o Senado e o Congresso. Mas todos sabíamos o que seria a América de Hillary Clinton.
Ninguém sabe o que passará para o exercício do poder de um discurso de campanha autoritário, mentiroso, xenófobo, homofóbico, misógino, racista e instável de Trump. Mas (invoco a atenuante da noite em claro) a eternização da perfídia de Washington, sustentada pelos títeres de Wall Street (combustível e comburente de Hillary) seriam alternativa melhor? Estamos agora mais perto ou mais longe de um terceiro conflito bélico, à escala mundial? Significativo, neste âmbito, (coisa menos iluminada pelos holofotes dos jornais e das televisões que os escândalos de Trump) é ver como os falcões do Pentágono ameaçaram demitir-se se Trump ganhasse.
Ninguém sabe o que se segue. Mas todos sabemos que as consequências do “America's Brexit” chegarão a todo o mundo. Se não o assassinarem antes.

08/11/2016

"Disse Costa!"

Santana Castilho
7/11 às 9:43 ·

Curto e Claro

Disse Costa!

No dia 20 de Outubro transacto, António Costa foi ao Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, a convite da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, falar aos socialistas sobre os problemas suscitados pelo OE 2017. Uma militante do PS, tratando-o por “meu camarada”, interpelou-o deste jeito:

“É uma vergonha o salário do presidente da Caixa Geral de Depósitos. Como é possível alguém ganhar tanto dinheiro assim?”
A resposta de António Costa:
“Pode ser impopular o vencimento, mas eu não arrisco a má gestão da Caixa”.

Parece legítimo concluir que Costa estabeleceu uma relação causa/efeito entre a qualidade da gestão e a quantidade de dinheiro que o gestor ganha. Dado que o vencimento do presidente da Caixa Geral de Depósitos foi fixado em 423 mil euros/ano, mais prémios (que podem chegar a 50% daquela quantia) e o de António Costa não chega aos 80 mil, a que não acrescem prémios, é razoável concluir que, segundo Costa, só podemos esperar, de Costa, uma má gestão.
Não digo eu. Disse Costa!

07/11/2016

das memórias e dos afectos

Foi a sua publicação mais apreciada, contada em 605 "gostos", no facebook. Suscitou inúmeros comentários de quem foi passando pela vida deste Professor, a saudade e o apreço sem limites, a gratidão de quem lhe reconhece as qualidades ímpares, enquanto Homem (e, sim, com a maiúscula que a tão poucos é devida!) e enquanto Profissional, o Primeiro entre os melhores.
Aqui fica mais uma homenagem, de uma professora que lhe deve (como todos os professores deste país!) o reconhecimento e o incentivo, o apoio e a generosidade, sempre, a força de lutar, todos os dias: por uma profissão que tantos aviltam e de que poucos reconhecem a relevância, pela Escola Pública que tanto beneficiaria da sua orientação e do seu saber, do seu humanismo. Obrigada, Professor Santana Castilho! 
E cito Bertolt Brecht:

«Há homens que lutam um dia, e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Porém há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis.»

06/11/2016

a interiorizar ...

da página no  facebook do Professor Santana Castilho 




«Todo o poder só se constrói 
sobre o consentimento dos que obedecem!»

02/11/2016

Os tocadores dos tambores do empreendedorismo

no Público
2 de Novembro de 2016

por Santana Castilho*

Pelo Expresso de 22 de Outubro, fiquei a saber que está criada uma “fábrica de líderes” (sic) em Cascais. A matéria-prima para a fabricação são 10 mil alunos de 50 escolas de Cascais. Diz a notícia que se trata do “maior programa municipal de empreendedorismo nas escolas” e afirma o obreiro mor, vereador Nuno Piteira Lopes, que quer “despertar o espírito empreendedor dos mais novos, dando-lhes ferramentas para encararem a criação de negócio próprio”. A iniciativa é da DNA Cascais, dita pelos costumes como associação sem fins lucrativos, mas verificada, de facto, como uma emanação da Câmara Municipal de Cascais. Com efeito, os associados fundadores são empresas municipais e a própria câmara e os órgãos sociais confundem-se, ora com políticos do PSD, ora com elementos da autarquia. Tudo em casa, pois, com a municipalização da Educação a passar de fininho, sob a égide da geringonça.

Softkills” (é talvez um acto falhado, mas é assim que está escrito no texto que cito) e “coaching”, são dois instrumentos pedagógicos com que o despertador de espíritos, Piteira Lopes, conta para catequisar 10 mil indígenas. O presidente da Câmara Municipal de Óbidos, o primeiro que se chegou à frente logo que a municipalização deu os primeiros passos, aquele que anunciou filosofia para os alunos do 1º ciclo do básico, yoga para os do jardim-de-infância e golf e eco design para os do secundário, não está mais só em matéria de arrojo. Já só faltam 306 contributos das restantes câmaras do país, no prometedor caminho da municipalização da Educação, para termos o curriculum nacional transformado numa empreendedora nave de loucos.

Em matéria de parceiros, Cascais tem um de peso: a Junior Achievement Portugal, aquela associação que foi acusada por um grupo de mães e pais de andar a “doutrinar crianças a ver a família como unidade de consumo e produção”.

A educação é cada vez mais pautada pela doutrina da sociedade de consumo e os alunos são cada vez mais orientados para os desejos que a orgia da publicidade fomenta. O nosso sistema de ensino deixa-os sem tempo para serem crianças, porque lhes define rotinas e obrigações segundo um modelo de adestramento que ignora as suas necessidades vitais de crescimento. A compreensão simples do que é uma criança é constantemente distorcida. E, digo-o com pesar, se não tivéssemos demasiados professores a não fazerem o seu trabalho, isto é, apanhando a onda em vez de a questionarem, deixando-se envolver por ideias neoliberais, devidamente higienizadas por discursos modernistas, a probabilidade destes discursos morrerem à nascença era bem maior que a possibilidade de granjearem adesões cúmplices. Com consciência operante umas vezes, de modo acéfalo outras, há uma comunicação social dominante, que usa técnicas de propaganda para formatar a opinião pública. Com peças persuasivas, na ausência de contraditório, é ver como fraudes e agressões passam por virtudes, trazendo consentimento para onde deveria existir questionamento, senão rejeição.

Correndo o risco de divergir da festa cascalense, permitam-me que complemente a peça do Expresso com quatro notas sobre a moda do empreendedorismo: cerca de 40% dos nossos activos são empresários em nome próprio ou labutam em empresas que têm menos de uma dezena de trabalhadores (o que mostra que não nos falta iniciativa para criar “negócios”); quanto mais atrasados são os países, mais elevados são os níveis de empreendedorismo dos seus cidadãos (o auto-emprego na Noruega não chega a 10%, mas no Bangladesh pula para 75%); o grosso dos activos dos países desenvolvidos trabalha em grandes organizações, que não em pequenos “negócios”; concluindo, promovamos um sistema de ensino que liberte as capacidades criadoras dos jovens (que só acrescentam valor relevante quando aproveitadas por organizações altamente profissionais e eficazes) em vez de iludir a chaga do desemprego com o folclore do empreendedorismo e criação do próprio “negócio”.

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)