29/05/2012

Arcos de Valdevez, "o rosto e as máscaras"

Conferência por SANTANA CASTILHO
25 de Maio, sessão de abertura

"Políticas para a educação: passado, presente e futuro"

Professor Santana Castilho com o Director do  CENFIPE, José Carlos Fernandes

CENFIPE (Centro de Formação e Inovação dos Profissionais de Educação)
| Escolas do Alto Lima e Paredes de Coura.

Santana Castilho e Boaventura S. Santos, 26/5/2012

25/05/2012

Santana Castilho em Arcos de Valdevez (25 de Maio)



-- hoje, pelas 22.00, na Sessão Solene de Abertura do CICLO DE CONFERÊNCIAS "O Rosto e as Máscaras : Inovar em Tempos de Desânimo", na CASA das ARTES de Arcos de Valdevez


21.30 h.
"Educar Com o Sim e com o Não : Escola, Parentalidade e Valores"
Sessão de Abertura

Conferência por SANTANA CASTILHO
"Políticas para a educação: passado, presente e futuro"



É em contra corrente, contra a desmotivação e a ideia da degradação da escola e das pessoas que nela habitam que o CENFIPE – Centro de Formação e Inovação dos Profissionais de educação /Escolas do Alto Lima e Paredes de Coura - convoca os Diretores de Escolas, Professores, Pais e Encarregados de educação, Autarcas, Académicos, investigadores, empreendedores e todos aqueles que tem responsabilidades na educação para um grande debate público, um Ciclo de Conferências ao qual deu o nome “ESCOLA PÚBLICA | O Rosto e as Máscaras: Inovar em tempos de Desânimo”.
Acontece no Norte, no Coração do Alto Minho, descentralizado por quatro Concelhos, Arcos de Valdevez (25 e 26 de Maio de 2012), Ponte de Lima (23 de Junho de 2012), Paredes de Coura (20 de Outubro de 2012 e Ponte da Barca (24 de Novembro de 2012).
Reúne-se, num momento único, um leque de especialistas/individualidades que, são hoje, referência em áreas distintas: sociologia, educação, inovação, tecnologia, empreendedorismo, investigação e decisão política. Pessoas que nos contagiam e inspiram…

Santana Castilho (ESE Santarém), Milice Ribeiro dos Santos (Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar), Jonhson Semedo (Associação Moinho da Juventude/Cova da Moura) Júlio Magalhães (Diretor do Porto Canal), António Câmara (CEO da Y Dreams), Boaventura de Sousa Santos (Diretor do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra), Licínio Lima (U. Minho), Almerindo Afonso (U. Minho), António Nóvoa(Reitor da Universidade de Lisboa), Joaquim Azevedo(Universidade Católica Portuguesa), Alexandre Castro Caldas(Diretor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade, Miguel Santos Guerra (Universidade de Málaga), Rui Nabeiro (Delta Cafés), Fortunato Frederico (Kyaia), Joaquim Borges Gouveia ()Universidade de Aveiro), Bautista Vallejo (Universidade de Huelva), Paulo Morais (Associação Anima com riso) o Alto Comissário do Plano Nacional de Leitura, Fernando Pinto do Amaral e o criativo Miguel Gonçalves (Spark Agency) são alguns dos nomes confirmados. Confirmada ainda na Sessão Solene de Abertura a Srª Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário, Isabel Leite e o Sr. Diretor Geral da Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira.
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O DIRETOR DO CENFIPE
José Carlos Fernandes

ver programa aqui
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23/05/2012

A dislexia das crianças e a dislexia dos que mandam


no Público de 23/5/3012,

por Santana Castilho *

1. O júri nacional de exames (JNE) recusou que a uma aluna de 14 anos fosse lido o enunciado do exame a que se submetia, obrigatoriamente. A aluna é disléxica. A leitura era prática seguida há anos. Aparentemente, a questão resume-se a saber se a um aluno disléxico devem ou não ser lidos os enunciados dos exames. O JNE diz que não. Os especialistas dizem que sim, pelo menos em casos determinados, dependendo da dificuldade do aluno. No caso em apreço, a escola da aluna recomendou a leitura. A terapeuta que a assiste também, aliás secundada pela respectiva direcção regional. Alega o JNE que os alunos disléxicos têm uma tolerância de 30 minutos relativamente ao tempo de duração das provas e são classificados segundo regras concebidas para que as suas limitações não se reflictam no resultado final. O JNE invoca uma generalização de abusos quanto a condições especiais, que se tornaram regra para alunos disléxicos. Da literatura disponível sobre a matéria inferem-se factos, a saber: a dislexia é uma limitação do foro neurológico, com diferentes graus de gravidade; uma dislexia moderada pode dispensar a leitura do enunciado dos exames, mas uma dislexia severa não; assim, alguns disléxicos podem cognitivamente dominar um saber e prová-lo se interrogados oralmente, embora não consigam entender ou sequer ler a pergunta, se esta for formulada por escrito. Num exame de Matemática, por exemplo, mede-se um conhecimento específico que um aluno pode deter em grau máximo, apesar da sua dislexia severa. Mas não o conseguirá provar se as questões estiverem escritas. Num exame de Português, o mesmo aluno pode ter uma fina capacidade de interpretar um texto complexo que lhe seja lido. Mas não entenderá coisa alguma se for obrigado a lê-lo. Pode o Estado certificar proficiência em leitura a um aluno com uma dislexia severa? Não. Mas não pode deixar que a limitação do aluno se reflicta noutras áreas do conhecimento, somando à respeitável penalização da natureza humana com que aquele aluno nasceu, outra penalização, desta feita nada respeitável. Porque entre o tempo em que se fechavam em galinheiros crianças deficientes e hoje houve um percurso, embora a tónica esteja agora posta em retrocessos a que chamam progressos. Não é redundante, por isso, recordar a alguns disléxicos que mandam que estão para breve mais exames a que se submeterão mais alunos disléxicos, com níveis de conhecimento que nunca poderão demonstrar se os econometristas da moda persistirem em confundir velocidade com toucinho, uma recorrente dislexia política dos tempos que correm.
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2. Passos Coelho e Miguel Relvas, que se saiba, não são disléxicos, por via neurológica. Mas dão sinais preocupantes de dislexia política. As afirmações do primeiro sobre a ventura feliz que o desemprego constitui, demonstraram uma profunda incapacidade de leitura do drama social dos portugueses desempregados. E a censura cínica que lhes dirigiu por preferirem ser assalariados a “empreendedores” (ele que, no curto tempo em que desempenhou alguma actividade produtiva se acolheu prudentemente ao Estado e a Ângelo Correia) mostra que não sabe, também, ler dados estatísticos. É que, se por um lado Portugal é o quarto país da OCDE que mais empresários tem, por outro, três quartos das empresas criadas ficam insolventes nos primeiros anos de actividade. Se esta dislexia for recuperável, perceberá um dia, tarde, que as causas do desastre, a que ele chama sorte, são outras. Começando por ele e pelo seu pensamento fundamentalista, socialmente darwinista.
Quanto ao homem do avental, ele que ousa dissertar sobre “jornalismo interpretativo”, acometido que parece de dislexia político/comunicacional (que generoso estou, não falando de pulsões chantagistas), avanço propostas terapêuticas para a interpretação do “texto”, que qualquer assessor lhe pode ler:
- Diga, em adenda à carta que dirigiu à Entidade Reguladora para a Comunicação Social, se sim ou não ameaçou a jornalista Maria José Oliveira com a publicação de dados sobre a sua (dela) vida privada.
- Diga, do mesmo passo, como saneia uma aparente contradição, quando depois de garantir que conheceu o ex-espião Jorge Silva Carvalho depois de Março de 2010, referiu na Assembleia da República ter dele recebido um “clipping” reportando uma visita de Bush ocorrida … em 2007. Esclareça se era habitual Silva Carvalho fazer “remakes” do “Canal História”, via SMS.
Claro está que isto é retórica de escriba. De escriba que expôs ao ministro Relvas, acabado de empossar, uma estranha “dislexia”, que continua por tratar ou explicar. Ainda os casos Nuno Simas e Pedro Rosa Mendes vinham longe.

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)


comentário daqui :

Graciete Teixeira Muito me apraz ver que há alguém acordado no meio da lavra.
A arborescência de medidas políticas, mal alinhavadas, feitas por quem não sabe costurar sem dedal, está a fazer um rasgo irremediável na educação. Despe-a de princípios de igualdade e justiça, transformando-a num cano estreito para ratos espertos, regredindo ao trivium da idade média. Esta revisão curricular, esta questão da dislexia, disparates luciferinos e um país que vai nu em praça pública, como se albergasse o melhor traje. Enojo-me deste fumo branco, que traz o povo português passivo, para não dizer pedrado, conformado e enformado como um par de sapatos.

09/05/2012

O Pingo Doce e o pingo amargo

Público, 8 de Maio de 2012

por Santana Castilho *
O Pingo Doce e o pingo amargo

1. Obviamente que não sei quanto facturou o Pingo Doce a 1 de Maio. Mas vi referências que situam o encaixe financeiro, em poucas horas, entre os 70 e os 90 milhões de euros. Imaginemos que o grupo recorria a emissão obrigacionista a três anos, para se financiar por igual quantia. Se tomarmos por referência as recentes iniciativas da Semapa e da EDP, a operação teria um custo nunca inferior a 17 milhões de euros. Não tenho elementos que me permitam calcular o valor da mercadoria que saiu das prateleiras, com prazos de validade próximos da caducidade. Mas, certamente, não será despiciendo. Não fora a campanha, essa mercadoria, que agora vai caducar em casa dos clientes, constituiria para o grupo uma perda total. Melhor foi, portanto, “passá-la” a 50 por cento. Volto a não saber quanto gasta o Pingo Doce em publicidade. Mas sabemos todos que é muito. Pois bem: quanto custariam a cascata de notícias, em horário nobre, de todas as televisões, as referências das rádios e o espaço dos jornais, servidos ao grupo a custo zero? Não sei, uma vez mais, quantificar o valor da vantagem comercial obtida com esta manobra predadora. Mas há perguntas que me ocorrem. Que impacto terá isto sobre o pequeno e agonizante comércio de bairro, face ao que o povo acumulou para meses? Quantos milhões perdeu Belmiro de Azevedo a favor do benfeitor Soares dos Santos? Quantos milhões vão perder os produtores, quando os preços forem esmagados pelo volume da operação de reposição de “stocks”?

2. Fora o altruísmo o motor que fez mover Soares dos Santos e a sua inteligência teria encontrado alternativas que nos poupassem ao pingo amargo que o Pingo Doce pôs a nu: a incivilidade de muitos. Ao ver bacalhaus pelo ar, polícia a dirimir tumultos e hospitais a receber vítimas de confrontos entre consumidores, voou-me o espírito para o 11 de Março. Não o nosso. O do Japão de 2011: sismo, “tsunami” e desastre nuclear; 200 mil refugiados, 13 mil mortos e 15 mil desaparecidos; 45 mil edifícios destruídos, 140 mil danificados e 200 mil milhões de euros de prejuízos. E? Quando a catástrofe chegou, cada cidadão sabia o que fazer. E fez. Cinquenta funcionários de Fukushima, sacrificando a vida em benefício do colectivo, permaneceram voluntariamente na central nuclear, para que a água do mar fosse bombeada para os reactores e a catástrofe não crescesse. Nas filas intermináveis para acesso a água e mantimentos, não se viu um atropelo ou a mínima algazarra. Só silêncio, consternação, paciência e dignidade. Não houve saques em lojas. Outrossim, cada japonês comprou o estritamente necessário para que os bens chegassem para todos. Os restaurantes baixaram os preços, respondendo de modo inverso à lei da oferta e da procura. Quando num supermercado a electricidade faltou, os clientes devolveram às prateleiras o que tinham em mãos e saíram ordeiramente. 

3. Entre nós e eles a diferença chama-se educação na família e instrução na escola. A sustentabilidade (como agora é moda dizer) do estado social é motivo actual para pôr em causa a escola pública. No início da sua actividade, como líder do PSD, Passos Coelho trouxe esta questão à discussão política, de modo mais explícito inicialmente, por forma corrigida e mais cautelar logo a seguir. Como é habitual, evocou a demografia: o Estado social não suporta a gratuidade desses serviços, disse, numa pirâmide etária com tendência para se inverter (menos jovens na base, mais velhos no vértice). Quem assim pensa, espere pelos resultados do que Passos e Crato estão a fazer à escola pública. Incensam a autonomia, mas reforçam o centralismo. Seraficamente, erigem ensino de primeira para poucos, financiado por todos, e ensino de terceira para a plebe, cada vez mais baratinho. Convenientemente, acolhem o caciquismo autárquico. Criminosamente, criam “unidades orgânicas” com 9 mil alunos, um só conselho pedagógico sem pedagogia possível, um director inchado que não vai dirigir, asfixiando, a decreto, a conjugação de esforços que só a proximidade permite.

A necessidade de evitar a bancarrota determinou entre nós uma espécie de estado de inevitabilidade e de necessidade nacional que impede, pela urgência que nos impuseram e pelo acenar insistente da tragédia grega, que discutamos outras vertentes possíveis de análise. Por que razão o peso dos problemas financeiros é menor em países com maior capacidade redistributiva da riqueza produzida? Por que razão assistimos, impávidos, à sistemática diminuição do investimento em educação, coexistente com a intocabilidade das rendas pagas pelo Estado a grupos económicos, gananciosos e apressados, com quem contratou parcerias ruinosas? Por que razão uma economia incivilizada passa pela crise sem que a possamos pôr em causa? 

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

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comentário retirado daqui :

Mário Jorge Professor, mais uma vez temos todos que lhe agradecer pela análise dos temas expostos, feita com tanta clareza e tão elucidativa que não deixará ninguém indiferente. Indiferentes e acomodadas parecem estar as instituições e associações que existem para mostrar a sua indignação e repulsa pelas medidas que, paulatinamente, nos fazem aceitar, em nome de uma necessidade que está por explicar. A pretexto de se ultrapassar a crise, criam-se outras crises: a da educação, a da justiça, a da saúde e muitas outras, e, concordo consigo, nada acontece, ninguém reage, todos se acomodam. É pena que o país continue adormecido…
Por isso, continuamos a contar com as suas crónicas, para ajudar a despertar os portugueses para uma realidade que muitos querem esconder. Obrigado.